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Dec 30, 2023

Sobrepesca de lulas: América Latina planeja resposta regional

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Marinha do Equador cerca navio de pesca chinês suspeito de pescar ilegalmente (Imagem: Alamy)

Gonzalo Torrico

13 de janeiro de 2021 10 de fevereiro de 2022

Em um dia ensolarado de junho de 2019, os sete tripulantes do barco de pesca artesanal Mercedes Rosario avistaram grandes embarcações internacionais na costa do Pacífico peruano. O capitão Jorge Jacinto Galán decidiu ancorar nas proximidades e aguardar o anoitecer, quando essas embarcações acendem suas poderosas luzes para atrair lulas de Humboldt em grande número.

"Esses barcos estavam a 50 milhas da costa de Callao", lembra Jacinto, bem dentro da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de 200 milhas do Peru, na qual embarcações estrangeiras não podem entrar sem permissão.

Jacinto, que também é presidente da Associação de Armadores e Pescadores Artesanais de San José, registrou o encontro em duas fotos que depois mostrou em um encontro com autoridades peruanas. As embarcações não portavam bandeiras, disse Jacinto, prática comum entre as embarcações suspeitas de praticar pesca ilegal, não declarada ou não regulamentada (IUU).

O Equador, vizinho do Peru, tornou-se o ponto focal da atenção global no ano passado, quando uma frota de mais de 300 barcos de pesca, a maioria chineses, foi identificada perto da zona tampão em torno das Ilhas Galápagos, no Equador. Desde então, essa frota continuou para o sul no Peru e alguns navios chegaram às águas do Chile. As nações sul-americanas estão agora se comprometendo a trabalhar juntas para proteger seus recursos marinhos.

O presidente do Equador, Lenín Moreno, disse à Assembleia Geral da ONU em setembro que os países da Comissão Permanente para o Pacífico Sul (CPPS) – Equador, Peru, Chile e Colômbia – condenaram a pesca ilegal nas proximidades de seus territórios e prometeram trabalhar juntos para lidar com isso. Eles disseram que trocariam informações em tempo real para destacar práticas suspeitas de IUU e permitir respostas rápidas. E em 4 de novembro, o CPPS emitiu uma declaração que especificava a "grande frota de navios de bandeira estrangeira" como motivo de preocupação.

As frotas internacionais seguem a lula de Humboldt enquanto migram pelos vastos territórios marinhos da América do Sul, necessitando de coordenação regional. No entanto, cada país ao longo da rota enfrenta desafios únicos no monitoramento e resposta à suspeita de pesca IUU.

O envolvimento da frota de águas distantes da China (DWF) na pesca da lula de Humboldt cresceu constantemente nas últimas duas décadas, de acordo com a Organização Regional de Gestão de Pesca do Pacífico Sul.

Algumas embarcações chinesas podem ser vistas no Pacífico o ano todo, na costa peruana, em busca de outras espécies, como a cavala. Metade dos barcos de lula percorre todo o caminho até o Atlântico, passando pelo Chile e tocando os limites marítimos da Argentina. Esta passagem é conhecida como a "rota da lula".

A China está classificada no topo do índice de pesca IUU da Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional. Usando o Krakken Unique Vessel Indentifier Database, o Overseas Development Institute identificou pelo menos 183 embarcações chinesas suspeitas dessas práticas em águas internacionais a partir de 2018.

Em abril daquele ano, guardas costeiros argentinos capturaram dois barcos chineses em águas argentinas, segundo Milko Schvartzmann, um conservacionista marinho que rastreia a frota. Um deles era o Hong Pu 16, que transportava 300 toneladas de lulas congeladas e teve seu rastreador por satélite desativado no momento de sua interceptação.

Em seis meses, eles começaram a operar novamente. Schvartzman disse que pelo menos 14 embarcações desse grupo têm histórico de envolvimento nesse tipo de atividade ilegal em águas nacionais.

Em 2019, a China começou a revisar sua lei de pesca e, uma vez em vigor, incluirá uma lista negra de embarcações que comprovadamente praticam pesca IUU. Também anunciou duas temporadas de defeso no que se acredita serem os principais locais de desova da lula de Humboldt e da lula curta argentina.

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